MPPA realiza I Simpósio de Prevenção ao Escalpelamento durante semana nacional de mobilização

Nesta quarta-feira, 27 de agosto, o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) promoveu o I Simpósio de Prevenção ao Escalpelamento, em alusão ao Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Escalpelamento, celebrado em 28 de agosto. O evento, realizado no Auditório Nathanael Farias Leitão, na sede do MPPA, integra a Semana Nacional de Conscientização e Prevenção ao Escalpelamento, com foco na proteção da população ribeirinha, especialmente mulheres e meninas vítimas de acidentes com eixos de motores de embarcações.
A iniciativa é uma realização do Centro de Apoio Operacional Cível, Processual e do Cidadão (CAO CPC), do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF), do Núcleo de Defesa das Pessoas Idosas e das Pessoas com Deficiência (NIDE) e da Promotoria de Justiça do Consumidor de Belém, com apoio de diversas instituições parceiras.
Entre as palestras, o evento abordou a atuação do Ministério Público na prevenção ao escalpelamento, o papel da Capitania dos Portos da Marinha do Brasil, a assistência social promovida pela ONG Amigas Voluntárias do Pará e pelas Voluntárias Cisne Branco, além da atuação da Fundacentro na prevenção de acidentes com motores em embarcações no estado.
Também houve apresentação do fluxo de atendimento às vítimas e um minicurso sobre curativos industrializados e primeiros socorros.
Pará lidera casos de escalpelamento no Brasil
Durante sua fala no simpósio, a promotora de Justiça Ângela Maria Balieiro, coordenadora do CAO CPC, reforçou a importância do engajamento interinstitucional para combater um problema que afeta profundamente comunidades ribeirinhas da região amazônica. Ela destacou que o Pará é o estado brasileiro com maior número de casos de escalpelamento, e que por isso, a mobilização ganha ainda mais relevância no contexto local.
"O Ministério Público, junto com as demais instituições parceiras, como a Secretaria de Segurança Pública, a Sespa, a Seduc, a Marinha, através da Capitania dos Portos, fazemos esse movimento para chamar a atenção das pessoas para a prevenção", afirmou a promotora.
Ela frisou que o principal causador dos acidentes é o eixo do motor descoberto, responsável por lesões gravíssimas, sobretudo em mulheres, meninas e adolescentes, que acabam tendo o couro cabeludo arrancado. Segundo Ângela Balieiro, as vítimas de escalpelamento exigem atenção constante do poder público.
"São vítimas que nunca saem de alta, que precisam de políticas públicas voltadas exclusivamente para elas. Isso quando elas sobrevivem, porque muitas delas morrem em decorrência desse acidente", disse. "A assistência necessária pós-acidente não é só questão estética da cirurgia plástica. Ela precisa do acompanhamento psicológico e pedagógico, porque é uma vítima que sofre discriminação", completou.
Capitania dos Portos reforça ações de prevenção
A Primeiro-Tenente Layza Serrão, da Marinha do Brasil, suplente da Comissão Estadual de Enfrentamento aos Acidentes de Escalpelamento, participou do simpósio e destacou o trabalho preventivo da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental.
"A Marinha realiza ações preventivas a fim de mitigar o acidente de escalpelamento na região, por meio de palestras de conscientização, instalação de cobertura de eixo, doação de toucas de proteção para os cabelos e distribuição de cartilhas educativas", disse. A instalação gratuita da cobertura de eixo pode ser agendada pelo telefone (91) 3218-3950.
Ações sociais ampliam rede de apoio às vítimas
A diretora da seccional Belém das Voluntárias Cisne Branco, Cinthia Serrano Marino, destacou a participação da entidade como uma extensão das ações da Marinha do Brasil no combate ao escalpelamento. Segundo ela, esta foi a primeira vez que o grupo se engajou diretamente com o tema.
"É um grande orgulho para a gente [participar da ação]. Foi um pequeno gesto, mas que a gente acha que pode evoluir nessa contribuição."
Como forma de apoio simbólico e afetivo às vítimas, o grupo produziu e doou 150 lenços e 35 tocas de crochê, confeccionados manualmente pelas voluntárias. As Voluntárias também estenderão sua atuação às comunidades ribeirinhas, com uma atividade educativa voltada para o público infantil: "A gente vai atuar com o futuro, com as crianças, que a gente acha que têm o potencial para mudar essa realidade."
Raíssa Oliveira, vítima de escalpelamento em 2011, quando tinha oito anos, destacou a relevância de eventos como o promovido pelo órgão ministerial. Para ela, dar voz às vítimas é essencial para que a sociedade entenda que o problema vai além das estatísticas.
"Eu acho que esse tipo de evento é de suma importância para as pessoas, primeiro para entender que a gente existe, que a gente não é só uma estatística, que somos meninas, mulheres, que ficamos escalpeladas para o resto da vida", disse. Ela também ressaltou que as necessidades das vítimas vão muito além do atendimento cirúrgico. "A nossa demanda não é só cirurgião plástico. Ela inclui uma imensidão de médicos. As pessoas de fora não compreendem muito o que a gente vive aqui dentro."
Para Raíssa, é fundamental que iniciativas como o simpósio sejam permanentes e não restritas apenas ao mês de agosto: "Eventos como esse deveriam acontecer mais vezes, não só no mês de agosto. Para que a gente possa ir alinhando algumas coisas com o Ministério Público e com as demais autoridades."
Texto: Hannah Franco/Ascom
Fotos: Alexandre Pacheco